ECONOMIA

Economista diz que futuro, no pós pandemia, é algo inusitado, que não está nos livros

Presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Enriquez Garcia diz que o vírus causa um estrago enorme, e que não há uma saída visível, tampouco que modelo

Protecionismo, deslealdade comercial, crescimento negativo. Esses são alguns dos aspectos que deverão prevalecer no cenário comercial internacional, segundo o economista Manuel Enriquez Garcia, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil. A solução para o equilíbrio ou a saída não está visível, tampouco segue qualquer modelo.

“A ciência também não sabe. Nós como economistas estamos nos defrontando com algo inusitado é algo que não está nos livros: uma desorganização tão acentuada no mercado de trabalho e no nível de atividade provocada por um vírus que não sabemos onde está, mas que é capaz de fazer um estrago enorme”, afirma.

Professor doutor do departamento de Economia da Faculdade de Economia Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), Manuel Garcia concedeu entrevista ao programa Economia Em Debate, projeto de extensão da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em parceria com o Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), para analisar o atual cenário econômico da economia brasileira no contexto internacional.

A queda do Produto Interno Bruto (PIB) é um fato, principalmente porque o índice é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por uma localidade em um determinado período e, neste momento, a prioridade são os produtos essenciais. “As pessoas deixam de comprar coisas que compravam antes para adquirir somente as de primeira necessidade como remédios, alimentos.

O consumo de produtos importados diminui muito, o que afeta diretamente a produção”, explica Garcia. “Mas isto não é exclusividade do Brasil, a pandemia é generalizada, ou seja, todos devem ser atingidos. Vai demorar um tempo para sairmos dela”, completa.

De acordo com o economista, a pandemia esta mostrando aspetos desleais e desumanos em relação à China. “É notória a dificuldade que países estão tendo para obter máscaras e respiradores oriundos do país asiático que passou a vender de maneira desleal, principalmente para quem paga mais, cancelando ou atrasando encomendas”, disse.

Questionado pelo presidente do Corecon-AM, Francisco de Assis Mourão Jr, se esta realidade tende a se acentuar por conta também da dependência da indústria brasileira de insumos chineses, o professor Manuel Enriquez Garcia foi categórico: “Esse sentimento de que devemos tomar os devidos cuidados serão mais fortes, não somente na área da saúde, mas em todas as outras. Essas retaliações surgem a partir do momento em que cada País passa a sentir a deslealdade comercial que deverá ser maior, ou seja, viveremos momentos de protecionismo. Isso acarreta um prejuízo no comercio mundial, que vai encolher com políticas anti-competitivas, não tenho a menor dúvida”, afirmou.

Perguntado pelo apresentador Jefferson Praia, em relação à taxa de câmbio brasileira, se há uma tendência a se acentuar, Manuel Garcia afirmou que a desvalorização do real não tem maiores efeitos sobre a taxa de inflação.

“Uma taxa de câmbio não é algo ruim para o setor exportador; o agro exporta toda a sua produção de commodities e estamos ainda como grande ofertante de commodities. O que temos de levar em conta são os efeitos que provocados pela saída de capitais, que saem todo o dia, principalmente com a venda de ações e aí aumenta a demanda de dólar. A taxa de cambio nessa situação prejudica os importadores e os que têm dívida em moeda estrangeira. Estamos em período de guerra e isto está tirando o nosso sossego; nenhum de nós viveu esse período”, afirma.

Na avaliação do economista, o governo Federal tomou as medidas necessárias do ponto de vista econômico, mas a pandemia se mostra extremamente prejudicial na medida em que se considera o momento anterior. “A instabilidade da economia brasileira acaba aumentando a desconfiança dos investidores estrangeiros, tão necessária para a retomada do crescimento econômico. O consumo apenas mantém o nível de crescimento mínimo; para crescer mesmo e trazer de volta os milhões de brasileiros que perderam os empregos, somente através de investimento e, neste momento, com capital estrangeiro na infra-estrutura”, concluiu.

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